sexta-feira, março 13, 2020

O perfume é uma mentira

O perfume é uma mentira

Cada indivíduo tem um cheiro próprio. Uma identidade balsâmica capaz de diferenciar o “um” na multidão.
Porém, fabrica-se uma ficção para o cultivo dos valores semeados. Assim, crê-se na semente e devoram-se os frutos. É o deserto real.
Produz-se, vende-se e consome-se de tudo, inclusive – pessoas; tudo isso sem nenhum pudor e sem nenhuma culpa. Agindo assim, sacraliza-se o profano e profana-se o sagrado no que tange ao templo humano que cada um constrói e representa.
A escalada das inverdades dissemina opiniões infundadas e críticas levianas que são defendidas entusiasticamente e suscitam posicionamentos desencontrados.
O cenário do embuste faz com que pessoas fiquem omissas e alienadas nas atitudes enquanto outras tantas afiam na ferocidade das palavras sua participação nas cenas cotidianas.
Miragens voláteis e imediatas são perseguidas e facilmente descartadas após a indevida conquista. São quimeras de um mundo falacioso produzido na sala dos passos perdidos de uma sociedade pós qualquer coisa que de tão fragmentada é incapaz de reconhecer-se.
Dessa fraude social surgem algumas lideranças que nada representam, salvo interesses mesquinhos e alinhados de outras burlas adotadas em procissão de fé cega no proveito próprio e futuro.
Propostas e projetos são desconhecidos, pois tudo gravita ao redor de nominatas e listas pré-constituídas e ignoradas pela maioria, que outrossim, arquiteta lograr êxito com a ascensão de um qualquer que possa entreabrir uma nesga de oportunidade.
O fingimento e a dissimulação propagam-se em solo fértil e são consideradas condutas e comportamento aceitáveis.
A verdade e a autenticidade sofrem com o desprezo e o “ser” que liberta se desmancha diante da solidificação do “ter” que escraviza e aprisiona.
Ora, mentir não é próprio somente do homem, a Natureza está prenhe de mimetismos adaptativos e evolutivos.
Simulacros e simulações são frutos do processo civilizatório.
Assim, em que pese à necessidade da verdade, - o perfume é uma mentira.

quinta-feira, julho 22, 2010

A fome boceja onde a fartura arrota

Diante do adormecimento da razão, como acordá-la? Na presença da paixão, como evitar a dor da perda? As paixões obstinadas movimentaram o mundo, e quase tudo conquistado pela humanidade se deu por meio delas; enquanto as paixões violentas sacudiram a história e provocaram mudanças. A razão, que é filha única da inteligência, eleva a humanidade na escala evolutiva. Descobre e inventa, aprimora e inova para que se possa divisar de modo criterioso cada parte do todo. Investiga além da aparência na direção do abismo hermético da essência.Enquanto a razão é bússola – rosa dos ventos, a paixão é ventania. Lidar com as paixões na escassez acentua as tensões e arruína as esperanças, faz o medo vicejar febrilmente, tornando os homens insociáveis e descrentes. Fazem-se vítimas e criminosos de si mesmos, confinados em um círculo de desconfiança. Na abundância, a razão se comporta mal, se dispersa e se encastela. Entorpecida pelo exagero, se enfastia. Olvida seus compromissos. Fia-se na abastança e, distraída, avança despretensiosamente sem direção e sentido, tal qual promessas vãs em meio às mesas dos banquetes. Deste modo, paixão é desejo. Seu contrário, a repulsa. E sua forma neutra, o desprezo. Razão é referencial de orientação. Seu avesso, a ignorância. E sua forma apática, a omissão. Paixão e razão formam a argamassa do agir humano. Conflitantes disputam no coração e na mente o espaço devido para exercer o controle.A vontade advinda da paixão é movimento. Consequentemente, o inquieto se expande. O incomodado se rebela. O irresignado desobedece. O inconformado promove revoluções. Todos sempre arrebatados pelo deslumbre da visão cobiçada.A razão teoriza os ideais, contudo é a paixão que transforma e subjuga o universo e sobrepuja os obstáculos. Por isso, a rosa perfeita é inútil, porém sua beleza, indispensável. Assim como o vento que enleva a embarcação é providencial, entretanto estéril quando o velame está arriado.Em campos onde se cultiva a fartura também se procria a fome. O bocejo sonolento da razão precisa ser devorado pelo grito da paixão que desperta o músculo adormecido pelo formigamento da inação.Para grandes avanços é preciso estar dominado pelas paixões. Por isso, quando não se está apaixonado demais, não se está o bastante. Quando não se está ridiculamente apaixonado, nada muda. De tal feita, e apesar de tudo, ainda que a beleza da rosa continue inútil, ela é imprescindível.

segunda-feira, maio 31, 2010

A nudez (publicado no Jornal - A Notícia 30/05/2010

A nudez, por Alexandre Luiz Bernardi Rossi*
A pele é a fronteira do corpo, a alma é o limiar da essência e a sede intensa da individualidade. Como desnudá-la? Despir-se das vestes é tarefa banal e vulgar; desnudar a alma é arte nobre e pura, requer confiança e profundo afeto. Por tais motivos sua prática é tão temerosa. Ao despir-se das vestes, descobre-se unicamente o corpo – abrigo da alma oculta. Já ao desnudar da alma – santuário do íntimo, desvenda-se a verdade sobre as debilidades de caráter e temperamento. Fica-se vulnerável.Há grande complacência e tolerância com o ato de despir do corpo os trajes, enquanto há muita resistência e relutância em desnudar da alma as fachadas. A reclusa alma sofre com a necessidade de permanecer oculta ou dissimulada em máscaras do não-eu; já o corpo se apraz e se diverte diante das tantas possibilidades de se mostrar inteiramente. Tal comportamento torna deleitoso somente o viver por viver e retira da vida a oportunidade inusitada da sinceridade pueril. Disso, resulta o “autoengano”, que impele continuamente ao fingimento.Ora, o medo – acrescido à fragilidade interior – de pronunciar-se como um ser integral torna a todos lunáticos, ou seja, possuidores de uma única face, detentores apenas da metade de si mesmos. Inequívoco que tal modo de agir é mais seguro, pois dá invisibilidade, todavia rouba violentamente a oportunidade da plenitude e por um pouco menos de riscos permuta-se a liberdade pela segurança. Encerrando por trás de pesadas portas as emoções silenciosas que teimam em existir sufocadas.De tal modo, a liberdade exige responsabilidade e capacidade de improviso diante das decisões. Poucos estão preparados para tanto. Daí, ao estender o olhar à sua volta, o homem sofre; perplexo e atônito, imerge no incompreensível e se perde. E ao perder-se de si mesmo, se abre prontamente. E ao se abrir prontamente, se despe com mais frequência para procurar no contato com a pele do outro a esperança perdida de algo autêntico. Assim, em ato desesperado, extrai da fricção dos corpos o calor indispensável para aquecer seu frio e inconsolado coração. E só assim sentir-se “vivo”; porém, incompleto, permanece só na sua própria incompletude. Assim, é mais fácil tirar a roupa do que desnudar a alma.

segunda-feira, maio 10, 2010

O perfume é uma mentira

Cada indivíduo tem um cheiro próprio. Uma identidade balsâmica capaz de diferenciar o “um” na multidão.
Porém, fabrica-se uma ficção para o cultivo dos valores semeados. Assim, crê-se na semente e devoram-se os frutos. É o deserto real.
Produz-se, vende-se e consome-se de tudo, inclusive – pessoas; tudo isso sem nenhum pudor e sem nenhuma culpa. Agindo assim, sacraliza-se o profano e profana-se o sagrado no que tange ao templo humano que cada um constrói e representa.
A escalada das inverdades dissemina opiniões infundadas e críticas levianas que são defendidas entusiasticamente e suscitam posicionamentos desencontrados.
O cenário do embuste faz com que pessoas fiquem omissas e alienadas nas atitudes enquanto outras tantas afiam na ferocidade das palavras sua participação nas cenas cotidianas.
Miragens voláteis e imediatas são perseguidas e facilmente descartadas após a indevida conquista. São quimeras de um mundo falacioso produzido na sala dos passos perdidos de uma sociedade pós qualquer coisa que de tão fragmentada é incapaz de reconhecer-se.
Dessa fraude social surgem algumas lideranças que nada representam, salvo interesses mesquinhos e alinhados de outras burlas adotadas em procissão de fé cega no proveito próprio e futuro.
Propostas e projetos são desconhecidos, pois tudo gravita ao redor de nominatas e listas pré-constituídas e ignoradas pela maioria, que outrossim, arquiteta lograr êxito com a ascensão de um qualquer que possa entreabrir uma nesga de oportunidade.
O fingimento e a dissimulação propagam-se em solo fértil e são consideradas condutas e comportamento aceitáveis.
A verdade e a autenticidade sofrem com o desprezo e o “ser” que liberta se desmancha diante da solidificação do “ter” que escraviza e aprisiona.
Ora, mentir não é próprio somente do homem, a Natureza está prenhe de mimetismos adaptativos e evolutivos.
Simulacros e simulações são frutos do processo civilizatório.
Assim, em que pese à necessidade da verdade, - o perfume é uma mentira.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Na escalação do time político da grande América, ou seja: de Chavez a Obama e de Morales a Kirschner, o presidente Lula joga em que posição?

Diante de um comando estatal só resta ao governado duas possibilidades, ou a obediência ou a relutância. Os governantes, enquanto governantes, procuram justificar seu poder político (força política a serviço de um interesse político) com a finalidade de encontrar entre os governados a aquiescência aos seus mandos e também desmandos.
Ora, se o governo é democrático a justificativa repousa na representatividade, se autoritário o regime, a justificação pode ir da violência até a teorias bem acabadas e convincentes cuja tônica será a sedução.
De um ou outro modo, tudo acaba na influência, controle e/ou manipulação daquele que recebe o comando que pode ser de natureza executiva, administrativa ou legislativa. Se acata o ato o governado colabora na sustentabilidade do sistema que lhe concede benefícios como mercadoria de troca. Se desacata, ou melhor reluta, estará desobedecendo ou resistindo ao comando. Se já não suporta mais os governantes terá de impor o sacrifício da revolução aos seus irmãos e manchará de sangue o quintal de sua própria casa.
Entre desobedecer e resistir existe diferença, enquanto a primeira não lança mão da violência a segunda necessariamente descasrregará a fúria ensandecida da indignação contra o aparelho repressor da sociedade política - Estado.
Por que falar sobre isso? Porque a falência da estrutura e o apodrecimento do sistema político permitiu que personagens ora caricatos, ora inoportunos, ora despreparados se fartassem no banquete da insensatez democrática, pois por meio do inválido e obscuro voto direto, secreto, universal e periódico foi deixada a porta de entrada do tesouro nacional aberta à sanha insaciável dos oportunistas de plantão.
Quem nos salvará de nós mesmos?

domingo, outubro 19, 2008

Algo deu errado...

Tudo bem...sei que tudo é inconstante...de que a estabilidade não existe...rupturas e descontinuidades...as pessoas se desumanizam...se coisificam...consomem e são consumidas...valores se invertem...o "amor" por "morte" e o ódio como convidado presente...a passos trôpegos e apressados caminhamos pelas calçadas...e periscopicamente olhamos para os lados e a multidão desordenada nos promete e confunde...incansáveis buscamos um lugar para sentar...fraquejamos...nos empurramos nas filas para comprar...pagar...
Tudo bem...eu sei que hoje o celular irá fazer soar aquela música que baixamos para anunciar aquela voz...mas...a voz será de outra pessoa...agora já desconhecida...proferindo palavras cujo significante será desprovido de significado e o vazio do tempo...se confundirá com o transcorrer do espaço...num surto de indignação...e saudade...
Porém...tudo estará bem...seremos felizes de acordo com o convencionado...e ninguém perguntará se houve um tempo em que se podia apenas passear despreocupadamente...onde os bancos pareciam guardar sempre um lugar para aquele que chegava tardiamente...e sempre havia uma mesa disponível...filas eram oportunidades de conversa...e cartas eram esperadas para serem abertas...não precisávamos estar conectados...

terça-feira, setembro 30, 2008

Hoje nasce uma nova experiência...

Escrever...sempre exige muita coragem...como se estivéssemos em um salão de baile...e...desengonçadamente as partes de nosso corpo estivessem em mundos diferentes...incomunicáveis...tentando de alguma forma...sobreviver...
Inauguro este Blog no intuito de expressar algumas idéias...e assim...dividi-las...